terça-feira, 24 de abril de 2012

Cancro


Odeio o cancro, há muitos anos. Levou-me vários familiares. Além de os levar, fê-los sofrer muito antes de irem. Eu assisti a todo o sofrimento e ninguém merece sofrer assim tanto. Uma das coisas que mais irrita (além do desprezo de muitos profissionais de saúde), é não podermos fazer nada pela pessoa. Podemos ajudá-la a sentir-se melhor sim mas não temos o poder de a curar e por vezes nem fazê-la sentir melhor se consegue. Além dos meus familiares, levou gente demais por esse mundo fora. Por tudo isto, já esperava que não ia gostar dessa parte no estágio. Assim foi.

A área onde me custou mais, até agora, estagiar foi a de oncologia. Não pelos fármacos e pela sua preparação, isso gostei. Mas custou-me olhar para as fichas dos doentes. Ver um nome, a idade, o diagnóstico e perceber que alguns não têm grande hipótese. É como se estivessem condenados.
O que mais me impressionou de tudo foi visitar o hospital de dia. Aí, os nomes que eu via nas folhas de prescrição ganharam uma cara e também uma família. Houve uma senhora que me marcou. 30 e poucos anos, casada, uma filha pequenina, cancro da mama metastizado na coluna, descoberto já em fase avançada. Vi perfeitamente o ar debilitado da senhora e, como pessoa pessimista que sou, não consegui deixar de imaginar o pior. O que será daquela criança sem mãe? Será justo ver a mãe sofrer assim? Só espero que isso não aconteça. Consegui aguentar-me para não desatar ali num pranto. Era só o que faltava, as pessoas ali doentes e em baixo, a ver um profissional de saúde a chorar por elas! Nada disso, nós existimos para lhes dar força, não é para as deprimir ainda mais. A esperança é a última a morrer e, por isso, espero que esta senhora, as outras pessoas que vi e todas as que sofrem de cancro consigam vencer a luta. Porque hoje em dia já há finais felizes para contar. Muitos mais do que havia há uns anos.

Há uns anos quando me perguntavam o que queria ser, eu dizia que queria descobrir a cura para o cancro. Inocente eu. Isso não irá acontecer mas era tão bom que alguém conseguisse descobrir algo revolucionário para o cancro. Algo eficaz, universal para todos os cancros e com bons resultados reais. Era tão bom. Mas como pessoa de ciências que sou, sei que é algo muito difícil de acontecer.
Bom bom, era o cancro não existir. Bem, vou sair do mundo da lua e já volto.

4 comentários:

  1. É a doença que mais medo me mete. Felizmente não tenho casos na família mas morro de medo.

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  2. Eu infelizmente já tenho história familiar ...

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  3. Iza,
    Foi o que mais me custou durante o estágio... Fui um dia para o hospital de dia e tive que me controlar diversas vezes para não chorar. A minha irmã é técnica de radioterapia e, acredita, é algo que me enche de orgulho. Hajam pessoas como ela!
    Beijinhos

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  4. Exactamente!
    Mas eu não tenho estômago para essas coisas que aquilo afectou-me um bocado.

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Tell me please :) Obrigada!
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