sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Prova do que disse no post de ontem


Farmácias em colapso. 20% sem dinheiro para repor stocks


Associações de farmácias e distribuidores no mercado ambulatório alertam para colapso das farmácias. A situação, dizem, está a degradar-se a ritmo acelerado desde 2005. O cenário é de alerta, de acordo com dados adiantados pelo sector: 20% das farmácias estão sem dinheiro para repor stocks. Cerca de 604 suspenderam já os fornecimentos de medicamentos, mais 154 que no final de 2010. O número de processos judiciais para execução de dívidas também aumentou, assim como o número de farmácias que pagam aos fornecedores acima dos 90 dias. 


As queixas das associações e dos distribuidores relacionam-se com a redução de preços que lhes tem sido imposta e ainda com a sobrecarga com prazos de pagamento dos medicamentos aos distribuidores - dez vezes inferior àqueles de que beneficia o sistema hospitalar. Além disso, as implicações da entrada dos genéricos e a necessidade de manter em stock várias marcas do mesmo medicamento (em consequência da não autorização de receitas por DCI e as receitas trancadas pelos médicos) tem criado desconforto. Além deste rol de problemas, o sector garante que também nota a erosão da confiança dos utentes. Entre 2005 e 2010, em virtude de uma série de reduções impostas pelo Estado, o preço dos medicamentos passou a ser dez vezes mais baixo. Os lucros distribuem-se em proporções de 20% para as farmácias, 8% para os distribuidores (que revendem com margem estipulada pela lei), cabendo o remanescente à indústria farmacêutica. As associações de farmácias queixam-se da disparidade de exigências que têm sido impostas ao ambulatório face às facilidades que contemplam o sistema hospitalar. 


O diagnóstico é subscrito igualmente por Pedro Pires, representante da UDIFAR - Cooperativa de Distribuição Farmacêutica, que denuncia a esquizofrenia instalada no sistema, com uma desigualdade absoluta a funcionar entre o mercado ambulatório e o hospitalar: "O Estado tem feito uma pressão enorme sobre a sector ambulatório para redução de preços, enquanto ao sistema hospitalar não tem sido pedido esforço equivalente." A dicotomia é evidente, sublinha Pedro Pires. "Enquanto durante dez anos os hospitais estão a pagar o mesmo preço pelos medicamentos e a beneficiar de prazos de 300 a 400 dias para pagamento à indústria farmacêutica, as farmácias foram forçadas a reduzir dez vezes os preços dos medicamentos e têm um prazo máximo de 30 dias para pagamento aos distribuidores." Porém, as reclamações não ficam por aqui. "No hospital há um genérico e um medicamento de marca (eleito pelo preço mais baixo em concurso), enquanto a farmácia tem o genérico e todas as marcas com a substância específica", acrescenta o representante da UDIFAR. 


Tribunal de Contas vs. farmácias O que é certo é que na recente auditoria ao Infarmed (Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde), o Tribunal de Contas (TC) lembrava que as farmácias têm rentabilidades muito superiores ao restante comércio, para defender que é possível, através do aumento da concorrência entre estes estabelecimentos, diminuir os preços dos medicamentos. A presidente da direcção da AFP - Associação das Farmácias de Portugal, rejeita estes argumentos: "Não é verdade que estejamos a ganhar mais que o comércio tradicional, pois o lucro das farmácias não pode ser analisado à letra - os lucros não correspondem aos valores de margem dos medicamentos, já que existe um leque de outras despesas que pesam sobre as farmácias."


Helena Castro Machado frisa ainda que se as recomendações de redução dos lucros das farmácias feitas pelo TC forem seguidas, "muitas terão de encerrar". E receia que os juízes do TC tenham ignorado na sua avaliação "os condicionalismos legais exigidos ao exercício farmacêutico e o impacto das múltiplas alterações legislativas, sobretudo nos últimos dois anos, à política do medicamento e na gestão da relação entre Estado, farmácias e utentes". Estes factores estão a conduzir, refere ao i a presidente da AFP, a "uma autêntica catástrofe para as farmácias". Neste ponto específico, Helena Castro Machado diz que a política deve estabilizar e definir regras claras para a missão das farmácias no âmbito do Serviço Nacional de Saúde, pois "a continuarem as medidas erráticas, o sistema colapsará pelo elo mais fraco, precisamente pelas farmácias, pondo em causa o próprio SNS". Para o representante da UDIFAR, a concorrência nem sempre é garantia de melhor serviço: "Há um limite, pois em situação de debilidade financeira, uma concentração demasiado elevada de estabelecimentos farmacêuticos conduz a uma deterioração do nível de serviços". E defende que "deve ser o Estado a aferir o nível de serviço prestado pelas farmácias e a assumir esse controlo".



Notícia publicada hoje no Jornal i
Parece eu que adivinhava...

2 comentários:

  1. Já fomos uma "classe" privilegiada, não somos mais. Apesar de os outros nos continuarem a ver como tal. Se não nos defendermos seremos mais uma profissão a engrossar os números do desemprego. É com muita mágoa que vejo tudo isto acontecer e ver que poucos fazem alguma coisa! (É só a minha singela opinião...)

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  2. É disso que tenho medo...
    Estudar tantos anos e sacrificar-me tanto para depois arriscar-me a ir para o desemprego.
    Eu até acho que nos tentamos defender mas as políticas actuais só nos deitam abaixo.
    Enfim, não convém pensar muito nisso que ainda falta 1 ano para eu me lançar, e depois fico ansiosa e é uma chatice x)

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